Verbo de ligação


são joão está acordado
23/06/2009, 14:32
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Capelinha de melão
É de São João,
É de cravo, é de rosa,
É de manjericão.
São João está acordado,
Ele não dorme, não,
Acordado, acordado
Está João.

Na fogueira gosto de lançar o que não me serve mais – e não serve para mais ninguém. Já joguei fotos que não me trazem boas lembranças, brinquedos violentos, filmes ruins, cartas que não me dizem mais nada e atiro tudo o que é meu e em que não vejo qualquer sinal de vida. Passam os meses, encho sacolas de trastes. Depois, diante da fogueira, faço pontaria e acerto, cheia de gosto:

– Queima, fogo! Queima! E me faz o favor de queimar sobretudo meus vícios, minhas compulsões de pensar, sentir, falar, comer e fazer o que não é bom, queima, por favor, os erros, os excessos, e queima também a indolência, derrete a frieza e me torna incondicionalmente amorosa.

Qualquer fogueira serve para esse intento. Porque o fogo transforma. Enquanto o ritual cria a oportunidade de moldar no mundo concreto a mudança que se quer realizar no abstrato psíquico.

Mas há um momento particularmente propício no ano para essa tarefa: a noite de São João.

João era filho de Zacarias e Isabel. Sua mãe era idosa quando concebeu e havia sido tida como estéril. Era prima de Maria, de modo que João e Jesus foram companheiros de infância.

Pastor de ovelhas, alimentava-se de mel e gafanhotos. Naquele tempo, pregava e batizava, as pessoas o procuravam, tamanha era a pungência da sua presença. João, conforme Isaías e também Malaquias profetizaram, proclamava a falência do modo de viver contaminado, que ainda hoje arrastamos, velho demais e obsoleto: “traçai o caminho do Senhor, aplanai as suas veredas” (Is 40,3). Assim, sua tarefa era – e é, pois João é anjo de Deus – preparar a chegada da força crística na Terra, para que habite plenamente entre os homens.

Que estamos doentes. Nosso mal se chama egoísmo, este medo que nos aterroriza e nos fecha em nós mesmos. Os sintomas todos conhecemos. A humanidade sofre tanto. Há tanta dor, tão cedo na vida. Tanta carência, tanto abandono. Tanta confusão sobre o que precisamos para viver. Quanto desamor há numa civilização que destrói a própria casa!

Cada dia mais, São João é muito necessário. Por isso, segue o pedido e o louvor.

Oh, São João querido, que ainda no ventre de tua mãe reconheceste o Salvador, estremecendo de alegria, que tiveste o merecimento de batizar Jesus e ver descer-Lhe o Cristo, que estiveste disposto a entregar a própria cabeça pela verdade, com tua lucidez, desperta em nós as forças que podem transformar a escuridão da noite humana. Consome em teu fogo divino nossa estagnação, abre espaço para a Boa Nova.

Viva São João Batista!

Onides Bonaccorsi Queiroz