Verbo de ligação


caro educador
13/10/2014, 14:42
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Caro educador,

 

Sou criança, a vida pulsa em mim com força.

Por isso amo a festa

e ainda sei o que você talvez tenha esquecido:

viver só faz sentido se for uma celebração.

Então, que a alegria seja a nossa bandeira!

A nossa conselheira de todas as horas.

Assim, respeite o meu brincar, que brincar é sagrado.

É a minha meditação, a educação primeira

destes tenros anos que são o alicerce da minha felicidade.

Atreva-se a confiar na inteligência da vida

e reverencie a minha pedagogia natural.

Constate que o conhecimento já está em mim,

e sua função é me ajudar a descortiná-lo.

Para tal, fomente a criatividade e a liberdade,

cultive o contato com as artes e a natureza,

também a autoridade amorosa, a única possível e necessária.

Cúmplices, faremos forte e bem-aventurado o nosso vínculo.

Afinal, precisaremos dele para enfrentar o desequilíbrio do mundo,

que está fazendo de tudo para espoliar minha inocência cada vez mais cedo.

Fique alerta, não me entregue à loucura humana,

aceitando resignadamente seus valores rotos,

suas convenções inescrupulosas.

Tenha a coragem de me proteger, educador!

Reflita, a cada ação: a que serve isto?

E não atribua a responsabilidade de seus procedimentos a superiores.

“Superior” deve ser a sua consciência.

Assuma pessoalmente o que você faz e diz.

Mais: não me corrompa, incitando-me ao consumismo.

Seu papel é prover-me de condições para perceber

que nada que me realize está à venda,

mas à espera de ser resgatado.

Incentive-me, portanto, a ser o conquistador de mim.

Provisione-me de ferramentas éticas e práticas para avaliar,

e então pagarei – o preço justo – apenas por aquilo de que necessito.

Não me entorpeça com dados, que têm sido muitos e fúteis,

não embote com bobagens formais o meu canal direto com o saber:

o meu voo é mais alto.

E é tão singelo que você não pode conceber, a menos que me ame:

quero poder rir e chorar, sentir e imaginar.

Também você flua,

em vez de estabelecer condutas inflexíveis para nós.

Porque isso é um desperdício de vitalidade,

e gera tédio e infelicidade para todos.

Ainda, resista ao automatismo de me responder “não”.

Mas não deixe de pronunciá-lo e fazê-lo valer

quando meu desejo ou comportamento representar prejuízo

para mim ou para os demais seres vivos.

E, por falar em “outros”, educador,

compreenda que essa mania de competição

é uma ideia obtusa que destrói o afeto e o planeta!

Ora, por que escolher alguns, se todos temos valor?

A vitória particular é uma circunstância diminuta

diante do que temos a capacidade de realizar juntos.

Instigue-me a dar o meu melhor, para mim mesmo e para o mundo.

Quem se esforça e compartilha sua gema preciosa sempre brilha!

Por fim, observe cuidadosamente que alternativa de vida você elege todos os dias

e visualize a sua realidade como o resultado das opções que você faz.

Ah, educador, eu tenho um sonho.

Que a escola não seja um lugar, mas uma dimensão do meu ser.

Ali mergulharei na formidável aventura do saber,

que apresentará envolventes e infinitas respostas para a pergunta fundamental:

quem sou eu?

 

Onides Bonaccorsi Queiroz

(Imagem: internet)

(Imagem: internet)