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De novo andaram de mãos dadas pela rua. O fim de tarde mais que gentil, as árvores antigas no largo passeio da avenida, o canto doce dos passarinhos ao se recolherem, enfim o mundo se abria para que transitassem.
À mesa, face a face pronunciaram todas as sílabas do passado difícil, de paixão muita e desencontros demais.
Aludiram às dores comuns e às particulares, não sem lágrimas. Confessaram motivos. Trocaram peças. Revelaram segredos.
Vinte anos transcorridos, era mesmo deles a canção buarquiana, que lhes trouxera tanto encanto quanto angústia: “Não se afobe não, que nada é pra já…”
Almas despidas, surgiram acolhedores e, solidários, admitiram a legitimidade humana do que se ofereceram.
Então constataram preciosidades: por tanto tempo distantes, e ainda eram íntimos. Tantas inquietudes se foram, e haviam se tornado mais amáveis.
Tudo o que parecera tão emergente agora descansava nas prateleiras do tempo. Enquanto eles, por sua vez, podiam descansar um no abraço do outro. Com a alegria dos moços e a calma dos velhos. Que tinham todas as idades.
Mais do que nunca, foram namorados.
Onides Bonaccorsi Queiroz
(Ouça aqui Futuros Amantes, de Chico Buarque)